domingo, 5 de maio de 2013

Classe Média? Portugal e Brasil em contramão...

"Em Portugal, a “classe-média-que-não-chegou-a-ser” está se desfazendo no ar. Dito de outro modo, os segmentos da classe trabalhadora dos serviços e da administração pública – que chegaram a adotar comportamentos e subjetividades típicas do velho ethos da classe média – foram confrontados nos últimos dois anos com a violência da crise que lhes mostrou a dura realidade de uma condição, afinal, mais precária, instável e carenciada do que se imaginara a si própria. Daí resultou uma espécie de despertar desses setores para a ação coletiva, como se tem visto nas fortes manifestações desde 2011. Vem ocorrendo uma reproletarização da classe média assalariada, com as consequentes implicações políticas, estimulando alianças com outros segmentos da classe trabalhadora na construção de uma nova rebeldia e (talvez) de um novo sujeito da transformação social. No Brasil temos uma “imaginária-classe-média-que-vive-do-trabalho” (Antunes, 1995), ainda pouco qualificada, que exorbita os seus consumos precários submetida pela miragem discursiva da midia e do poder vigente, para satisfação de credores e alguns agiotas ligados ao mundo da finança e do crédito. Um segmento da classe trabalhadora que, sendo atomizado e individualizado pelo consumismo, torna-se politicamente inofensivo e indiferente à ação coletiva, a não ser que no futuro próximo o desenvolvimentismo brasileiro consiga conciliar o aumento do poder de compra desse setor com a consolidação das suas qualificações, a eficácia do Estado de direito e o reforço da cidadania social. Só nesse caso poderá ocorrer um efetivo reforço da classe média brasileira." (último paragrafo; capítulo de livro em publicação no Brasil)